Parafraseando o povo que em cada ano repete desejos de uma vida nova mas obviamente melhor, pelo menos secretamente desejada. Agora que temos um novo governo, não podemos ter a veleidade de esperar uma vida melhor. Ela será certamente mais cheia de dificuldades para a esmagadora maioria dos portugueses, exceptuando aqueles - sempre os mesmos - para quem o sol sorriu à nascença ou que, por meios ilícitos ou afortunados, adquiriram um estatuto que os torna imunes às dificuldades dos demais.
Os mais esperançados lá vão dizendo são dois anos de dificuldades e depois lá virá o sol para todos... Não nos iludamos. O buraco em que nos metemos todos é muito fundo e para sair dele não há governo capaz. A história que vivemos hoje faz-me lembrar a "Carta a Sir John Bull" admiravelmente escrita por Ramalho Ortigão há 124 anos. Enquanto ele se dirigia à muleta inglesa a que subservientemente nos encostámos então e que agora podemos comparar à União Europeia e como a ela cedemos toda a nossa capacidade de autodeterminarmos o nosso futuro sustento e soberania. Então, Ramalho Ortigão assinava a carta com a dedicatória "teu amigo, aliado e freguês constantemente explorado e agradecido". O que podemos dizer agora em relação à UE , ao FMI e a todos os poderes fáticos deste mundo a que nos submetemos, explorados até ao tutano e humilde e humilhadamente agradecidos?
Destruímos sistematicamente a nossa capacidade de produção na indústria, na agricultura, nas pescas, em especial nos governos altamente competentes e bons alunos do cavaquismo em troca de umas quantas esmolas fáceis chamadas fundos estruturais que eram supostos elevar-nos ao nível dos mais desenvolvidos. Qual ilusão? fomos ficando cada vez mais fundo à medida que a nossa capacidade de produção se reduzia, obrigados a importar com esses fundos o que a europa nos oferecia para desenvolver as estruturas que construímos. Agora temos as infraestruturas mas não temos o que fazer e utilizar com elas e, na agricultura, os fundos maiores são para não produzir, porque o que é preciso é comprar os excedentes europeus. A UE e o FMI "dão-nos" dinheiro para pagarmos juros usurários que o nosso rendimento jamais realisticamente poderá superar.
Não nos enganemos! Acabou-se a "determinação" do "discurso arrogante" e agora temos a "determinação" das "falinhas mansas". É apenas a "espuma dos tempos" ou a mudança de estilo obviamente necessária para iludir os mais distraídos e os cansados de ouvido.
Este país só tem solução quando o povo, como em 1383, se levantar e expulsar os "vendilhões do templo"... Foi na sequência desse gesto colectivo que se começou um novo futuro e chegámos a dominar o mundo! Agora, não seriam precisos 100 anos para chegarmos tão alto, nem seria necessário porque os tempos são outros e tudo é muito mais rápido e efémero!