Monday, August 24, 2009

Zonas de risco???

Vem a propósito da recente ruína de parte de uma falésia e da infeliz e terrível morte de algumas pessoas, por sinal todas da mesma família. Quantas vezes isso acontece, famílias juntas na praia, por vezes tomando refeições juntas, os pais brincando com as crianças, por vezes bébés à sombra nos seus berços, nas zonas mais frescas, normalmente junto das paredes por vezes humedecidas por veios de águas que se infiltram e quase sempre com sinalização de alerta visível... Quantas vezes vimos esse cenário antes e já depois do sucedido? e quantas vamos ver mais?
Mas o que está errado em tudo isto? As pessoas na praia? as pessoas nos locais mais frescos? as famílias juntas confraternizando? as crianças e bébés à sombra? as falésias humedecidas? a sinalização? etc.? etc? Porventura, nada está verdadeira e totalmente errado...

Somos um povo que não respeita a sinalização por mais óbvia, seja na estrada, nas praias e em quaisquer outros locais. Procuramos sempre encontrar uma forma de a contornar... Habituámo-nos a desrespeitar os avisos, as proibições, os prazos, tudo o que são imposições em geral. Muitas vezes, porque as entidades que emitem os avisos e colocam a sinalização a não sabem fazer da forma mais adequada aos fins e a colocam em locais menos apropriados e fora dos caminhos mais óbvios de acesso. Outras vezes, porque a sinalização está desajustada e desactualizada (quantas vezes encontramos nas estradas limites de velocidade do tempo em que ainda se andava de burro...).

Mas voltemos a este caso. Morreu uma família portuguesa. Quantas pessoas mais vão morrer em circunstâncias semelhantes? Quanto custa isso à sociedade? O falecimento de um cidadão tem um enorme custo para todos nós. Não vamos aqui referir quantias, mas o valor daquela família é enorme. O investimento nela efectuado pela sociedade, o contributo que ainda poderiam dar ao país representam valores enormes que ninguém contabiliza mas é bem significativo. E quanto mais custou a operação de emergência de reparação do local em relação ao que deveria ser um acto de rotina? E quanto custou ao país a mobilização de meios apenas para fazer a massiça cobertura dos meios de comunicação social? E, por aí adiante...

E como fazer respeitar a sinalização nas praias? Se forem meros avisos, quem os toma por bons respeita, quem não, ignora, assumindo as consequências. Se fossem de proibição, devido aos riscos de morte que envolvem, deveria haver coimas a aplicar pela fiscalização marítima. Se não as houver, a fiscalização nem aparece para não fazer figura de parvo.

E será que aquilo a que se vai proceder agora, afinal cumprindo uma obrigação do Estado que até teria sido decidida antes, vai evitar novas mortes idênticas? Os portugueses vão passar a respeitar as sinalizações? Certamente que não... As entidades vão agora ajustar os sinais às situações reais? Falta-nos toda uma cultura cívica de respeito pelas pessoas, pela natureza, pelo bem público, que se não adquire de um momento para o outro. São gerações de vícios a desenraizar...

E, já agora, nos casos em que para demolir falésias em risco se terão de fazer obras de arte vultuosas para defender património que nunca deveria ter sido edificado nesses locais? E por quantos anos mais, face ao avanço dos oceanos, para não falar de outros problemas naturais inevitáveis? E se houver indemnizações a pagar? Vamos pagar tudo isso nós todos? Todos, isto é, os contribuintes (porque continua a haver muitos que o não são...), para beneficiar apenas uns que, tantas vezes (para não afirmar todas...), se apropriaram indevidamente (por mais antiga que fosse a apropriação!), com a complacência das autoridades, de propriedade de direito público, protegida pela lei geral, para usufruirem em exclusivo de locais únicos, tantas vezes paradisíacos, que deveriam preservados e poder ser utilizados por todos? Mas fiquemos por aqui... que já muito vai nu.

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